Uma palavra ao bom povo do Brasil

— 17 de janeiro de 2024, por Douglas Wilson

Como alguns de vocês sabem, Nancy e eu estamos planejando viajar para o Brasil no próximo mês a fim de falar em uma grande conferência evangélica. A notícia de que estávamos indo foi divulgada e um artigo de jornal foi publicado por um ativista de esquerda chamado Ronilso Pacheco, acusando-me de racismo e de defender a escravidão. Esse artigo teve alguma repercussão e deu início a um certo tumulto. Como disse meu genro, logrei a honra de me tornar uma espécie de pária global.

Por ser um ministro de Jesus Cristo, aquele que se descreveu como o caminho, a verdade e a vida, em circunstâncias como essas, tenho a responsabilidade de me manifestar. Isso é para que todos os amigos da verdade possam ter a oportunidade de se alegrar conosco. Jesus foi muito claro sobre esse tipo de coisa: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus…” (Mt 5.11-12). Mencionei há pouco a honra de me tornar um pária, mas isso é mais do que uma escusa descontraída. É realmente uma bênção ser aviltado. É realmente uma honra ser desonrado.

Mas isso só é uma honra se as acusações forem falsas, o que, nesse caso, certamente são.

Embora eu considere tudo isso uma honra genuína, ainda há um perigo real envolvido nisso. Um de meus principais motivos para me comunicar com vocês dessa forma é que, embora as Escrituras obviamente nos ensinem que é pecado mentir, também somos instruídos de que é pecado acreditar na mentira. Afinal de contas, nossos primeiros pais mergulharam nosso mundo no pecado porque acreditaram em uma mentira. E estão mentindo para você em tudo isso, e minha intenção aqui é explicar o que realmente está acontecendo.

Quero listar os sete motivos principais pelos quais você deve entender que essas acusações são mentiras sem fundamento.

Primeiro, na página inicial do meu blog (dougwils.com), publicada em lugar de destaque — onde até o mais preguiçoso dos jornalistas poderia encontrá-la — tenho uma seção chamada “Critical Questions” [Questões críticas]. A primeira delas é sobre pecados raciais. Se você tirar um momento para ler o que escrevi lá, e isso está lá há anos, verá como as acusações são ridículas. E se você concorda com o que eu digo lá, isso significa que essas falsas acusações de racismo poderiam ser facilmente aplicadas a você também. Isso seria correto?

O segundo ponto é um pouco mais detalhado. Se você acessar meu blog uma segunda vez e olhar a barra de menu superior, encontrará a guia “About” (Sobre). Se você clicar ali, verá algo chamado “Controversy Library” (Biblioteca de controvérsias) no menu suspenso. O segundo item dessa biblioteca é intitulado “Eu nego que a escravidão tenha sido um bem positivo”. Nessa seção, há vários links (de anos atrás) que demonstram como essas acusações são falsas. Se você realmente quiser saber a verdade sobre tudo isso, a verdade está publicada e prontamente acessível.

Meu terceiro argumento dependerá de um experimento mental que você pode realizar por conta própria. Se a questão é tão clara quanto os meus dois primeiros pontos acima parecem indicar, então por que ainda existe uma controvérsia? A escravidão terminou no Brasil em 1888. Em meu país, ela terminou em 1865. Por que isso ainda é um problema? A questão central em tudo isso é a autoridade de Jesus Cristo e a suficiência de sua santa Palavra, a Bíblia. Quando nos vemos cercados pelo pecado e por instituições pecaminosas, a Palavra de Deus nos instrui sobre o que fazer. Os cristãos não são apenas instruídos a combater os males sociais, eles são instruídos sobre como combater os males sociais. Isso se aplicava a instituições como a escravidão romana no primeiro século, e se aplicava ao comércio de escravos que existia em nosso hemisfério há dois séculos. O Novo Testamento está repleto de instruções sobre como os crentes deveriam subverter uma instituição como a escravidão. Essa controvérsia está ocorrendo porque sou obstinadamente leal a essas instruções apostólicas e me recuso a pedir desculpas pelo fato de que o cristão é chamado a trabalhar por reforma, não por revolução. Mas a questão que temos diante de nós hoje é a revolução sexual, e não a antiga instituição da escravidão. Ninguém quer reintroduzir a escravidão. Mas os revolucionários querem introduzir todo tipo de novidade sexual. Quando os cristãos se opõem a isso e dizem que a Bíblia proíbe todas essas coisas, eles respondem com “mas a Bíblia permitiu a escravidão”. Se você disser algo como “isso foi naquele tempo, agora é diferente”, eles perguntarão por que os evangélicos podem jogar o jogo do “isso foi naquele tempo, agora é diferente”, mas os sodomitas não podem. E, honestamente, essa seria uma pergunta justa.

Quarto, você precisa reconhecer qual é a estratégia. Se você é um seguidor de Cristo, precisa entender que você e sua família são os próximos. Certa feita, Winston Churchill definiu um apaziguador como alguém que joga os outros para os jacarés, esperando ser o último a ser comido. E se você se afastar de outros crentes sempre que eles estiverem recebendo “o tratamento”, estará, na verdade, pedindo a Deus que se certifique de que outros crentes se afastem de você quando chegar a sua vez. Não dê crédito a declarações difamatórias só porque elas são dirigidas a outra pessoa. Elas nem sempre serão dirigidas a outros. A cultura do cancelamento é uma estratégia que o inimigo desenvolveu e a utiliza com alto grau de eficácia. Mas ela só funciona porque os fiéis reagem com medo, em vez de coragem.

O quinto ponto tem a ver com as qualificações editoriais daqueles que nos acusam. Quando os cristãos evangélicos que acreditam na Bíblia são acusados de serem racistas, supremacistas brancos, defensores da escravidão e todo outro tipo de acusação, lembre-se de que estamos falando de pessoas que têm dificuldade em definir o que é um menino ou uma menina. Isso significa que elas também não sabem o que é a raça humana. Mas se você não sabe o que é a raça humana, então como é que eles esperam ser encarregados de definir racismo?

Em sexto lugar, o caminho da reforma por meio do evangelho é sempre melhor. Embora seu país tenha abolido a escravidão alguns anos mais tarde do que nós, nos Estados Unidos, vocês tiveram a bênção de fazer isso sem uma guerra mortal e ruinosa. Matamos 600.000 homens e, em muitos aspectos, essa guerra resultou em uma ferida que nunca cicatrizou de verdade. Portanto, minha posição não é a de um defensor da escravidão. Um de meus grandes heróis evangélicos é William Wilberforce, o homem que foi fundamental para acabar com o comércio de escravos no Império Britânico. E ele não fez isso com canhões. Meu argumento nunca foi que a escravidão era necessária, mas sim que a carnificina não era necessária.

E, por fim, a questão fundamental em tudo isso é o evangelho de Jesus Cristo. A escravidão é uma questão perene porque a raça humana é decaída e rebelde, e a Bíblia descreve isso como uma escravidão fundamental ao pecado: “Mas graças a Deus porque, outrora, escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração à forma de doutrina a que fostes entregues” (Rm 6.17). Enquanto os cristãos estiverem proclamando o evangelho, eles terão de falar sobre um certo tipo de escravidão, o tipo de escravidão ao pecado da qual o evangelho nos liberta.

Sou um pregador desse evangelho libertador. Por causa dos pecados do mundo moderno, estamos todos afundando em um pesadelo infernal e totalitário. Por causa de nossa rejeição a Cristo, estamos no processo de nos tornarmos escravos. Seu país não é exceção a isso. Deixe-me dizer novamente: seu país não é exceção a isso. Os esquerdistas que estão me acusando de tentar defender a escravidão — do tipo que foi eliminado há dois séculos — são os mesmos que estão ali, segurando suas futuras correntes pelas costas. Uma nação de pessoas que são escravizadas por essas paixões e pecados nunca será livre.

A única saída é olhar para o Salvador crucificado, o Messias de Deus, pregado numa cruz. Ele viveu uma vida perfeita e sem pecado — ele não era escravo — e foi crucificado e sepultado. No terceiro dia, ele ressuscitou dos mortos, e fez isso para que você pudesse andar em novidade de vida. Esse é mais um motivo pelo qual posso me alegrar com o fato de essas calúnias terem sido feitas contra mim. Isso me dá a oportunidade de proclamar o evangelho da livre graça, o evangelho que liberta os escravos.

Se a acusação de que amo a escravidão for usada por Deus para levar qualquer um de vocês a entrar em contato com o evangelho da libertação e se algum escravo do pecado for libertado por meio desse evangelho da livre graça e do perdão, isso seria o que eu chamaria de uma doce ironia. E terá valido muito a pena.

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Tradução: Thiago McHertt

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