Quando Nossos Homens Cantarem Novamente

Por: Grant Van Brimmer.

Tradução: Joéfesson Inácio Romão

Todo ser que respira louve ao Senhor.
Aleluia!
Salmo 150.6 (ARA)

O mandamento de louvar a Deus está presente em toda a Escritura. No verso acima, o Espírito chama todas as coisas que têm fôlego para louvar ao Senhor. O canto também é claramente apresentado em toda a Escritura e é uma marca evidente da vida e presença do Espírito no corpo de Cristo (Colossenses 3.16; Efésios 4.18, 19). Estranhamente, há algo que tenho observado entre os homens debaixo do sol. É uma cultura de falta de canto entre os homens. Quando eles são questionados do porquê, a pergunta é respondida, geralmente, com indiferença ou desinteresse. Conquanto possam ser muitas as razões, este fenômeno pode ser um sintoma de um problema maior dentro da igreja. Mas, por que cantar?

Dez anos da minha vida eu dediquei ao Exército dos EUA, e uma das formas pelas quais eles constroem o “esprit de corps” [espírito de equipe] é através da incorporação do canto nas atividades diárias dos soldados. Não apenas cantávamos em cerimônias, mas cantávamos em todos os lugares que íamos, caminhando ou correndo. Cantar mudava o humor e criava um laço comum entre todos ao redor que estavam cantando e suportando as mesmas coisas que você. E isso não era porque todos pertencíamos a um coral em uma catedral. Esse canto era feito para gerar motivação para a tarefa, exercício ou operação em questão. Mesmo que você não sentisse muita vontade de cantar a cadência em voz alta, sempre havia alguém de patente mais alta por perto dizendo: “Finja, até conseguir, recruta.” Certamente, na maioria das vezes, disciplinar-se a cantar alto com a formação mudava sua atitude.

Cantar em contexto militar não é novidade. Muitos podem lembrar-se da conhecida flauta e tambor que acompanhavam os exércitos para que os comandantes pudessem comunicar suas ordens através das grandes formações. Outra ocorrência similar de homens cantando com vigor são as “sea shanty” [canções do mar, celeuma]. Sejam piratas, forças navais ou comerciantes marítimos, cantar tem sido uma característica desses homens rudes na água. Na verdade, homens amam cantar. Eu já vi isso. Cantar é uma coisa muito masculina de se fazer. O fenômeno na igreja é bastante curioso, já que é possível demonstrar que até os homens mais másculos são conhecidos por cantar. Responda-me isso: por que então a igreja está sempre com falta na seção de baixos?

Uma breve jornada pela Escritura pode nos ajudar a ver o uso e lugar comuns do canto, o que pode fornecer uma explicação. Bem no início da Bíblia, vemos que a primeira coisa que Adão faz ao ver Eva é cantar. Suas palavras são líricas:

E disse o homem:
Esta, afinal, é osso dos meus ossos
e carne da minha carne;
chamar-se-á varoa,
porquanto do varão foi tomada.
Gênesis 2.23 (ARA)

O canto, portanto, é apropriado no advento de Deus multiplicando e glorificando Sua criação, como foi o caso quando Deus criou Eva.

Após Israel atravessar o Mar Vermelho, a Escritura registra uma canção de Moisés para nós em Êxodo 15. O maior rei na Escritura, cujos valentes eram renomados por sua coragem, bravura e habilidade em batalha, era ao mesmo tempo um músico excelente e um compositor prolífico. O rei Davi estava no auge da masculinidade quando escreveu cânticos da vitória de Deus e empregou músicos do templo para executá-los.

Ao final da Escritura, encontramos que uma característica da adoração litúrgica celestial é o canto frequente. Algumas canções são, por natureza, repetitivas, como o Sanctus (Isaías 6; Apocalipse 4), enquanto outras são novas, o cântico de Moisés ou a canção do Cordeiro. Estas canções louvam as grandes obras e vitórias de Deus (Apocalipse 5.9, 10; 15.3, 4).

O canto não é apenas uma característica da celebração após a batalha ser vencida, mas é também parte da própria batalha.

Em 2 Crônicas 20, quando enfrentava os Amonitas e Moabitas, Josafá não coloca seus valentes à frente da formação, mas os músicos. A música é a ponta da lança e Deus derrota milagrosamente os inimigos de Israel. Como observa o Dr. Leithart, “embora 2 Crônicas 20 seja um dos exemplos bíblicos mais claros de guerra litúrgica, não é o único de forma alguma. Israel comumente obtém vitórias invocando o Senhor em oração e exaltando-o em louvor”.[1] Leithart reforça ainda mais seu ponto ao observar que, quando escravizados no Egito, quando enfrentaram a cidade de Jericó e quando liderados por Samuel na batalha de Ebenezer, o clamor ao Senhor e a música desempenharam um papel de destaque antes e durante a vitória. A eficácia da música não é a música em si. Se fosse esse o caso, não haveria problema na igreja hoje. Pelo contrário, afirma Leithart:

A guerra litúrgica só é eficaz como uma expressão da dependência do adorador no Senhor dos Exércitos, o Deus das Batalhas. Quando é exaltado em nossos louvores, ele torna-se um terror para nossos inimigos, deixa o campo coberto de cadáveres e transforma o vale da batalha em uma vale de Beraca [vale da bênção].[2]

Mesmo esses homens que estão em silêncio na igreja irão cantar sua música de rock favorita em seu carro. Muitos desses homens silenciosos irão aproveitar uma cerveja e cantar mal no karaokê com os amigos. Logo, o que acontece a eles uma vez que entram pelas portas da igreja? Por que eles falham em abraçar a guerra litúrgica para a qual foram chamados?

Parte do problema é que, há décadas, a igreja tem incentivado seu povo que o canto vibrante de Salmos e Hinos é uma preferência pessoal, em vez de algo integral à vida da igreja. Cânticos de alegria, vitória, justiça e perdão encontrados no saltério foram arrancados da cultura da igreja. Seus líderes estão com vergonha das palavras da Escritura, recusam-se a falar a Palavra de Deus em praça pública e então substituem-na por canções que não veem, ouvem, falam ou salvam. Os líderes da igreja estão mudos e os homens estão seguindo seus comandantes. Onde cânticos de alegria e vitória ainda restam na igreja, os cânticos sucumbem à feminilização de nossa cultura. Eles são esvaziados de seu conteúdo e parecem ser mais apropriados para um baile escolar. Dada essa feminilização da música na igreja, não é de se admirar que os homens estão em silêncio. Além disso, os homens não cantam porque eles, assim como a igreja, estão acenando com a bandeira branca.Cantar canções de vitória seria hipocrisia. Em geral, a igreja tem abandonado o padrão bíblico de justiça, adoração e sexualidade.

A igreja está muda enquanto aos milhares os bebês são assassinados todo dia. A igreja esteve muda enquanto a adoração a Deus foi cancelada como sendo perigosa. A igreja fica muda enquanto a promiscuidade sexual, a confusão de gênero e a homossexualidade são suavizadas em vez de confrontadas. Não é de se admirar que elas fecharam o saltério e silenciaram os cânticos de alegria e vitória dentro de seus muros. Os pastores largaram suas armas de cântico e louvor e pegaram as armas mundanas de circo e prazer. A igreja deve arrepender-se e novamente lutar o bom combate, colocando o saltério de volta às mãos de seus homens. Também, os homens devem ser exortados a cantar com mãos levantadas ao Senhor, visto que devemos amar ao Senhor nosso Deus com toda nossa força.

Atualmente, estamos na estação da Quaresma. Durante esse período, a igreja assume uma postura dedicada de arrependimento, reflexão e esperança renovada. Algo de que a igreja geral deve arrepender-se é ter recuado através do abandono do canto bíblico. Os homens não cantam porque a igreja os ensinou que a batalha acabou, o povo de Deus está derrotado e não há motivo para celebração ou louvor. A igreja permitiu ao inimigo capturar seu estandarte e reivindicar vitória por sua falha em cantar estrondosamente a justiça, a benignidade e o perdão de Deus.

Se a igreja deseja permanecer firme em nossos dias, os homens devem ser lembrados de que seu batismo alistou-os na Guerra Santa e eles devem cantar para derrubar o inimigo. A igreja deve reintegrar o saltério à sua liturgia para que os homens saibam que o Senhor os espera no campo de batalha. O apóstolo Paulo exortou a igreja a combater o bom combate, e vimos que uma das armas preferidas de Deus contra seus inimigos é o cântico.

Assim como a flauta e o tambor conduzem os soldados pelo campo de batalha e comunicam ordens pelas fileiras, os homens da igreja não cantarão a menos que — ou até que — seus líderes mostrem o caminho. Pastores devem liderar seus homens em cânticos vitoriosos. Isso significa que você, pai, deve liderar seus filhos pelo exemplo e ensiná-los a cantar os louvores de Deus.

Homens, isso se aplica à forma como vocês lideram e estabelecem. Aplica-se especificamente à como criar seus filhos. Você e seus filhos foram chamados para a batalha. O Senhor chamou você e seus filhos para a batalha com o Cântico do Espírito e os convida a se unir à luta. Você deve encarar o fato de que, se seu filho não canta na igreja, é porque você não canta ou não o treinou a fazê-lo. Ensine a seus filhos as maravilhosas obras de Deus e depois ensine-o a cantar os louvores de Deus com você a plenos pulmões.

Quando nossos homens cantarem novamente, será então que a igreja mostrará à cultura masculina que o Deus de todos os exércitos está ao seu lado e que as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

“Batei palmas, todos os povos; celebrai a Deus com vozes de júbilo. Pois o Senhor Altíssimo é tremendo, é o grande rei de toda a terra. Ele nos submeteu os povos e pôs sob os nossos pés as nações”
Salmos 47.1-3


[1] Leithart, Peter J. 1 & 2 Chronicles, (Brazos Press: Grand Rapids, 2019). p.175.

[2] Ibid, p. 175

Michael Ferreira

Michael Ferreira

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