O Que o Batismo Realiza? Parte III: Uma Cerimônia de Casamento

Por Paul Liberati

Nesta série, procuro responder à pergunta: O que o Batismo Realiza? Para começar, eu disse: o Batismo inicia um verdadeiro relacionamento de aliança com o Deus Trino e com cada uma das Pessoas em particular. Isso significa que há três aspectos diferentes nesse relacionamento, e cada um corresponde a uma das Três Pessoas da Trindade. No que se refere ao Pai, o relacionamento é adotivo. No que se refere ao Filho, o relacionamento é conjugal. E no que se refere ao Espírito Santo, o relacionamento é ministerial.

Abordei o aspecto adotivo e agora abordarei o aspecto conjugal. Primeiro, quero mostrar que, na Bíblia, o relacionamento que temos com Deus em Cristo é de natureza conjugal. Segundo, mostrarei a conexão entre casamento e batismo. Por fim, fornecerei algumas diretrizes sobre como pensar nesse relacionamento em termos de realidades objetivas e subjetivas.

Casados com Deus em Cristo

A Bíblia ensina que o relacionamento entre marido e mulher é uma imagem do relacionamento entre Cristo e a igreja. Paulo diz em Efésios 5:25: “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Por isso, frequentemente ouvimos pastores e teólogos descrevendo a igreja como a noiva de Cristo. Isso corresponde a Apocalipse 19:7, que diz: “Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, e a sua noiva já se preparou”.

É importante saber que este não é um relacionamento novo que surgiu no Novo Testamento. Sabemos disso em parte porque a igreja não é um fenômeno do Novo Testamento. Pelo contrário, ela existe desde o início da atividade redentora de Deus. Adão, Eva, Sete, Abraão, Moisés e todos os crentes fiéis entre eles eram membros da igreja, mesmo em sua infância. Assim, Estêvão pôde dizer que Moisés estava com a “igreja no deserto” (Atos 7:38). Isso significa que sempre houve um relacionamento muito íntimo e, como veremos, até mesmo conjugal, entre Jesus Cristo e seu povo.

Esse relacionamento conjugal, como tema recorrente nas Escrituras, é expresso de várias maneiras — às vezes sutilmente, outras vezes abertamente. Curiosamente, acabamos de ler em Apocalipse 19:7 que o casamento de Cristo é chamado de “casamento do cordeiro”, o que nos lembra que Jesus é o cordeiro que foi morto, não antes, mas ” desde (ἀπὸ) a fundação do mundo” (Apocalipse 13:8). Isso nos remete ao jardim onde, após a Queda, Adão e Eva foram vestidos com as belas vestes de Cristo.

Há outros lugares onde se pode ver esse relacionamento conjugal entre Deus e Seu povo. Talvez a descrição mais vívida no Antigo Testamento seja encontrada em Ezequiel 16. O capítulo inteiro é dedicado a esse tema conjugal, enquanto o Senhor convoca Jerusalém a abandonar o adultério, assim como um homem convocaria a esposa de volta. A passagem é longa demais para ser abordada na íntegra, mas destacarei alguns detalhes importantes.

Primeiro, o Senhor chama Seu povo a se lembrar de como seu relacionamento começou. Em seu pai, Abrão, eles viviam em um estado impuro, imersos em adoração falsa e práticas pagãs, descritos como “nus” e vivendo em vergonha pública. No entanto, o Senhor teve misericórdia dessa “mulher”, decidiu colocar Seu amor nela e a tomou para Si. No versículo 8, Ele diz: “Quando passei por ti e te vi, eis que o teu tempo era tempo de amor; então estendi a minha capa sobre ti e cobri a tua nudez. Sim, jurei-te e entrei em aliança contigo, e tu foste minha, diz o Senhor DEUS.” Aqui, vemos um noivado acontecendo.

Mais tarde, quando Ele se casa com ela, vemos como o relacionamento se desenvolve. Nos versículos 10 a 14, Ele a veste com belas vestes e a adorna com ouro, prata e pedras preciosas. No versículo 19, Ele faz referência a trazê-la para Sua própria casa e alimentá-la com pão em Sua mesa, dizendo: “… o meu alimento que te dei — o bolo de flor de farinha, azeite e mel, com que te alimentei.” No versículo 20, Ele até menciona os filhos dela como sendo Seus, referindo-se a eles como “Teus filhos e tuas filhas, que me deste à luz.” No versículo 21, quando ela sacrifica esses filhos a deuses pagãos, Ele diz: “Mataste os meus filhos.”

Esta imagem clara e vívida mostra que o relacionamento entre o Senhor e Seu povo é, e sempre foi, de natureza conjugal. Há uma aliança feita, ela vem morar em Sua casa, come pão à Sua mesa e, quando ela tem filhos, Ele os recebe como se fossem Seus.

Mas a próxima pergunta é: como o batismo se relaciona com isso?

Casados por Batismo

Se olharmos atentamente para Ezequiel 16, a resposta está no versículo 9. Logo após o Senhor jurar se casar com essa mulher, e pouco antes de vesti-la com suas vestes nupciais, Ele diz: “Então te lavei com água; sim, lavei bem o teu sangue, e te ungi com óleo.”

Aqui, temos uma referência clara ao batismo da noiva de Deus, enquanto ela é lavada e preparada para a celebração do casamento. Voando a trinta mil pés de altura, este capítulo nos leva do tempo de Abrão, quando o Senhor a pediu em casamento, ao tempo de Moisés, quando o Senhor casou Seu povo na aliança no Monte Sinai. A lavagem se encaixa perfeitamente entre os dois e se refere ao batismo do povo na travessia do Mar Vermelho. Em 1 Coríntios 10:1-4, Paulo diz: “Além disso, irmãos, não quero que ignoreis que todos os nossos pais estiveram debaixo da nuvem, todos passaram pelo mar e todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar. Todos comeram do mesmo alimento espiritual e todos beberam da mesma bebida espiritual, pois beberam da Rocha espiritual que os seguia, e essa Rocha era Cristo.”

Portanto, Israel é a igreja e a noiva de Cristo. Antes de caminhar pelo corredor e chegar ao altar para fazer seus votos matrimoniais, ela primeiro se submete à cerimônia de purificação. Essa cerimônia é um tipo e uma sombra do sacramento do santo batismo.

Para finalizar este segundo ponto, é importante observar que a conexão entre batismo e casamento permanece intacta no Novo Testamento. Primeiramente, porém, devemos observar que, quando chegamos ao Novo Testamento, um costume conhecido como “Mikveh” já havia se desenvolvido em Israel. Esse costume se refere à purificação ritual da noiva, que servia como uma lavagem preparatória para o casamento. As origens dessa prática não são totalmente claras, mas descobertas arqueológicas identificaram uma localização de Mikveh que remonta ao século II a.C., e parece que a prática pode ter surgido de reflexões teológicas sobre as ações de Deus durante o Êxodo.

Independentemente de suas origens, o Mikveh era uma prática comum na época de Jesus e João Batista e, em certa medida, contribui para o rico contexto simbólico que dá significado ao batismo cristão. No mínimo, reforça o padrão bíblico anterior, demonstrando ainda mais que o batismo é parte integrante da cerimônia de casamento. Sobre esse ponto, há duas passagens a serem consideradas.

A primeira passagem é encontrada em Efésios 5. Anteriormente, examinamos o versículo 25, onde Paulo discute o sacrifício de Cristo: “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Este versículo fala da redenção realizada. No entanto, no versículo 26, ele transita para a redenção aplicada: Jesus comprou a igreja com Seu sangue para que pudesse trazê-la para Si mesmo. No geral, lê-se: “Maridos, amai vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível”.

Nesse contexto, Jesus morreu pela Igreja para chamá-la, purificá-la e apresentá-la a Si mesmo como uma noiva pura e imaculada. Essa imagem serve como uma representação gráfica do que ocorre no sacramento do Santo Batismo.

A segunda passagem está localizada em João 3:22-29, onde os seguidores de João Batista expressam sua preocupação com o fato de Jesus batizar mais discípulos do que João. Após uma discussão com os fariseus sobre o significado da purificação, os discípulos de João se aproximam dele e dizem: “Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, de quem tu deste testemunho, eis que ele está batizando, e todos estão vindo a ele!” Em resposta, João emprega a analogia do casamento para elucidar a situação: “Um homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do alto… Aquele que tem a noiva é o noivo” (v. 29).

Segundo João, seu papel no batismo era preparar o povo para Jesus, o verdadeiro noivo. Ele era apenas o amigo do noivo. Agora, com a chegada do noivo, era apropriado que o povo se voltasse para Ele, Aquele que iniciaria a cerimônia de casamento lavando Sua própria noiva.

Essas conexões são significativas. Paulo e João, embora abordem o tema de perspectivas diferentes, transmitem a mesma mensagem. João fala a partir do contexto do batismo e passa para o tema do casamento, enquanto Paulo fala a partir do contexto do casamento e passa para o tema do batismo. Em ambos os casos, a mensagem é clara: Jesus é o Noivo, e a Igreja é a Sua noiva. Ao tomá-la para Si, Ele começa, com o sacramento do batismo, a santificá-la e purificá-la com a lavagem da água pela palavra.

Realidades Objetivas e Subjetivas

Ao chegarmos ao terceiro ponto, é essencial discutir as realidades objetivas e subjetivas, pois esta é uma área em que muitos cristãos tropeçam em seu entendimento. Assim como afirmei no texto anterior¹ sobre adoção (com o batismo sendo a cerimônia de adoção), aqui, ao examinarmos o casamento, afirmo que o batismo é a cerimônia de casamento. Assim como você foi adotado na família de Deus e se tornou Seu filho, também você foi unido a Jesus Cristo e se tornou parte de Sua noiva.

É crucial lembrar que, embora adoção e casamento sejam duas relações de aliança distintas, eles compartilham muitas semelhanças. Assim como a adoção, o casamento tem o poder de mudar a identidade de uma pessoa. No entanto, semelhante à adoção, o casamento promove, mas não garante, uma mudança de coração. É a essa distinção que me refiro quando me refiro às realidades objetivas e subjetivas. Reserve um momento para considerar cada uma dessas proposições separadamente.

1. O casamento tem o poder de mudar sua identidade. Quando um homem e sua noiva chegam à igreja no dia do casamento, eles vêm como dois indivíduos solteiros, pertencentes a famílias distintas, residindo em casas diferentes e com nomes diferentes. Quando esses dois indivíduos deixam a igreja, eles estão unidos no que chamamos de estado sagrado do casamento. Surge a pergunta: como essa transformação ocorreu?

A resposta está na cerimônia de casamento. Em virtude dessa cerimônia, suas identidades foram transformadas de maneira real e significativa. Cada um agora possui um novo conjunto de relacionamentos concretos — não apenas entre si, mas também com inúmeras outras pessoas. Juntos, eles adquirem novos privilégios e responsabilidades, e podem se envolver em ações que, antes do casamento, seriam pecaminosas e moralmente inaceitáveis.

Embora o casamento não seja um sacramento, ele fornece uma analogia poderosa para a compreensão do batismo e seus efeitos. O batismo é uma cerimônia divina, um ritual ordenado por Deus que altera o status objetivo e a identidade da pessoa batizada. Assim como os recém-casados foram integrados a um novo conjunto de relacionamentos e circunstâncias, aqueles que foram batizados foram unidos a Jesus Cristo e incorporados ao Seu corpo. Como noiva de Cristo, somos introduzidos em Sua casa, onde todos participamos do mesmo pão e bebemos do mesmo cálice à Mesa do Senhor. Além disso, à medida que continuamos a crescer como povo de Deus, Jesus recebe nossos filhos da aliança como Seus.

2. O batismo não garante nossa posse final da vida eterna. O segundo aspecto a considerar, então, é que, embora o batismo (como o casamento e a adoção) mude a identidade de alguém, ele não promete mudar o coração. Como discutimos anteriormente, um menino pode ser adotado, receber um novo pai e receber tudo o que precisa para prosperar — amor, provisão, instrução e disciplina — e ainda assim crescer sem amar seu pai em troca. Da mesma forma, uma mulher pode se casar e receber um marido que lhe forneça tudo o que ela precisa — amor, cuidado, segurança e proteção — e ainda assim, ainda é possível que ela se afaste e deixe de amar seu marido em troca. Ela pode rejeitar sua afeição, desconsiderar suas palavras e se recusar a honrá-lo como seu cabeça pactual.

Compreender essas dinâmicas é crucial. O casamento oferece diversas possibilidades em relação ao funcionamento subjetivo do coração de uma pessoa. No caso da mulher, é possível que o amor verdadeiro esteja presente desde o início da cerimônia de casamento. Também é possível que o amor verdadeiro esteja ausente inicialmente, mas se desenvolva com o tempo. Lamentavelmente, também é possível que o amor necessário para um casamento forte e frutífero esteja ausente e nunca se desenvolva em seu coração.

Eventualmente, talvez depois de muitos anos, os verdadeiros sentimentos da mulher podem se manifestar, e ela começa a viver exteriormente como realmente é interiormente. No entanto, há um ponto importantíssimo a considerar: quando isso acontece, o marido não pode dizer: “Achei que éramos casados todo esse tempo, mas agora, com base nas suas ações, percebo que nunca fomos verdadeiramente casados”.

Tal raciocínio é inválido. O homem e a mulher são de fato casados, pois uma transação de aliança real ocorreu no dia do casamento. A questão não é que eles não eram casados. Em vez disso, a questão é que a mulher se tornou uma esposa desamorosa e infiel. Embora ela possa ser uma esposa adúltera, ela ainda assim é esposa dele.

Esta situação lamentável se alinha perfeitamente com o sacramento do Santo Batismo. O fato de o seu batismo uni-lo a Jesus Cristo não garante automaticamente que você cumprirá fielmente o seu chamado cristão. É por isso que, quando indivíduos na igreja se desviam, o primeiro passo que damos é chamá-los de volta ao batismo. Lembramos a eles que foi naquele momento que foram lavados, vestidos e abraçados por Jesus Cristo, que lhes disse: “Eu te amo, eu te recebo e você pertence a Mim”. A boa notícia é que, para alguns, esse lembrete serve como um chamado para despertar. Ele os compele a reconhecer a necessidade de se arrepender de seus pecados e redirecionar seus corações para Cristo. Serve como um chamado eficaz para amar a Deus porque Ele os amou primeiro.

Quando essa compreensão ocorre, seguem-se o arrependimento, o perdão, a purificação e a verdadeira reconciliação. Há alegria no céu por cada pecador que se arrepende. E assim como nunca mais há necessidade de se casar, também nunca mais há necessidade de se batizar. A Bíblia afirma que há “um só Senhor, uma só fé e um só batismo” (Efésios 4:5). E que um só batismo é suficiente para toda a vida cristã. Portanto, retornar ao batismo é semelhante a chamar uma mulher para reafirmar seus votos matrimoniais.

Da mesma forma, você também pode retornar ao seu batismo para receber uma renovação do seu relacionamento de aliança com Deus e uma nova aplicação da purificação dos seus pecados.

¹ https://missaoguanabara.com/o-que-o-batismo-realiza-parte-ii-cerimonia-de-adocao/

Michael Ferreira

Michael Ferreira

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