O Que o Batismo Realiza? Parte I: Introdução

Por Paul Liberati

Uma das questões que frequentemente aparecem sobre o sacramento do Santo Batismo é: O que ele realmente faz? A resposta da forma mais básica é que o Batismo inicia um relacionamento de aliança com o Deus Triúno e com cada uma das três Pessoas em particular.

Nesta série vou desenvolver essa resposta com alguns detalhes, mas primeiro pode ser útil dar uma breve explicação e defesa de suas várias partes.

O Batismo Inicia um Relacionamento de Aliança

Alguns argumentam que “iniciar” é uma palavra muito forte, pois o batismo, assim como a circuncisão, apenas “reconhece” o relacionamento de aliança existente de uma criança com Deus, desde que ela tenha nascido de pelo menos um dos pais crentes (1 Coríntios. 7.14). De fato, tal argumento não é totalmente errado, pois o Senhor afirma que uma criança não circuncidada ao oitavo dia seria: “ cortado do seu povo” por ter “quebrado minha aliança” (Gênesis 17:12-14). A partir desta passagem, isto é evidente, que todo garoto israelita tinha um status legítimo na aliança antes de sua circuncisão. Caso contrário, como ele poderia ter quebrado a aliança? Ou o que significa que ele deveria ser cortado do povo de Deus?

Ao mesmo tempo, porém, precisamos entender que esse status de aliança pré-circuncisão era provisório. Para usar uma analogia, é como uma carteira de motorista temporária emitida para um novo motorista até que a oficial chegue. A licença em papel é real mas se destina ao uso limitado e temporário e, portanto, traz a isenção de responsabilidade: Não é um documento de identidade válido. Embora imperfeita, esta analogia é suficiente. A essência de Gênesis 17:12-14 é que quando a circuncisão de um garoto israelita era recusada ou negligenciada pelo pai, o status provisório da aliança da criança expirava no oitavo dia. Assim, a falta da circuncisão anula o status que a criança desfrutava pelos primeiros oito dias de sua vida. No mínimo, isso implica que o nascimento por si só -assim como a licença de papel- não era uma forma válida de identificação da aliança em Israel.

Da mesma forma, poderíamos afirmar que qualquer criança nascida hoje de pelo menos um dos pais crentes tem interesse na aliança em virtude do seu nascimento. Nesse sentido, seu status na aliança é assumido mas continua pendente. A criança é santa, mas com uma santidade provisória (1 Coríntios 7:14). Assim, é somente quando ela é batizada que ele entra na  igreja e é limpa e confirmada como membro do corpo de Cristo. Sendo batizada, seu status de aliança provisória é formalizado e garantido.

Contudo, embora tal objeção possa ser válida, ela é no entanto limitada, uma vez que se aplica apenas às crianças da aliança que nascem dentro da igreja e não leva em conta os homens, mulheres e crianças que vêm de fora. Por isso, aqueles que vêm de fora não têm status de aliança para garantir ou formalizar. No caso deles, o batismo serve para conferir esse status pela primeira vez, pois os une a Jesus Cristo, os traz para a comunidade da nova aliança e incorpora à vida da igreja: “Pois todos nós fomos batizados em um só Espírito, formando um só corpo” (1 Coríntios 12:12-13; cf Atos 2:41).

Portanto, não há nada impróprio em dizer que o batismo inicia um relacionamento de aliança com o Deus Triúno.

Um Relacionamento com o Deus Triúno 

De todos os aspectos da resposta fornecida, este talvez seja o mais fácil de entender. Quando uma pessoa é batizada, ela sempre é batizada em nome do Deus Triúno. Jesus ordenou aos apóstolos que usassem a forma trinitária para o batismo cristão, portanto, empregar uma forma diferente invalida o rito. A menos que sejamos batizados “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo” (Mateus 28:19-20), não fomos batizados de forma alguma. Esse mandamento tem sido seguido fielmente pela igreja por quase 2000 anos.

Infelizmente, muitos hoje questionam a necessidade de usar a fórmula trinitária, citando exemplos nas Escrituras onde os apóstolos batizaram pessoas “em nome de Jesus” (Atos 10:48). Para esclarecer esse ponto, nós devemos entender a flexibilidade do termo “nome” (grego: onoma). Às vezes, ele se refere à reputação de uma pessoa, como vemos em Apocalipse 3:1: “tens nome de que vives, e estás morto”. Em outros momentos, denota a autoridade de uma pessoa, como quando Paulo disse ao espírito imundo: “Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela.” (Atos 16:18). Neste último sentido, os apóstolos batizaram no Nome de Jesus – eles agiram sob Sua autoridade, como Seus representantes designados.

Além disso, o termo “nome” é usado na Escritura para denotar a própria pessoa. Isto é evidente na resposta do Senhor para Moisés quando ele pede para ver a Glória de Deus (Êxodo 33:18). O Senhor respondeu, “Eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti, e proclamarei o nome do Senhor diante de ti;” (Êxodo 33:19). Posteriormente, ao passar por Moisés, Ele proclamou Seu “nome” listando uma série de atributos comunicáveis de Sua própria natureza – especificamente Sua misericórdia, graça, paciência, bondade, verdade e justiça (Êxodo 34:6-7). A partir disso, começa a se tornar mais claro que o Nome de Deus se refere a Deus mesmo, de modo que ser batizado em Nome do Deus Triúno é ser batizado nele. Através do batismo, somos unidos por Deus em Cristo, feitos “participantes da natureza divina” (2ª Pedro 1:4) e beneficiários das mais ricas bênçãos da aliança.

No entanto, como observado previamente, a igreja continua comprometida em batizar na autoridade de Jesus Cristo, que comissionou seus discípulos a batizarem “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Esta prática é essencial para manter.

Com Cada Pessoa da Trindade

Aqui, começa a transmissão do “uno” para o “múltiplo” e retornamos onde iniciamos. Deus é realmente um, mas Ele é um em três Pessoas. Portanto, enquanto o batismo inicia um relacionamento de aliança com o Deus Triúno, há necessariamente três aspectos distintos para esse relacionamento, cada um correspondendo a uma das três Pessoas da Trindade. No que diz respeito ao Pai, a relação é de adoção, no que diz respeito ao Filho, é matrimonial; e no que diz respeito ao Espírito Santo, é o ministerial. Assim, o batismo (servindo simultaneamente como uma cerimônia de adoção, casamento, e ordenação) incorpora imediatamente a pessoa batizada à família de Deus, à noiva de Cristo  e ao sacerdócio universal da igreja cristã.

Nas três partes seguintes, abordarei e defenderei essas proposições, começando com a afirmação de que o batismo cristão é uma cerimônia de adoção. Esse aspecto é fundamental, pois, não apenas ressalta nossa identidade em Cristo, mas também nos convida a um relacionamento profundo e transformador que Deus estende a cada um de Seus filhos da aliança.

Tradução: Michael Ferreira

Michael Ferreira

Michael Ferreira

Scroll to Top