O que é ser um homem honesto?

Imagem: A morte do cavalheiro Sir Philip Sydney

Em defesa de Pascal e poética; contra Montaigne e l’abaissement

por Joffre Swait

Claro que todos nós deveríamos ser homens honestos. Sabemos disso. Honestos como escoteiros ou pastores alemães. Tão honestos quanto o dia é longo. Mas é suficiente ser honesto para ser vero e fiel? Como definimos honestidade?

Sugiro que a nossa definição se aproxime mais ao conceito do homme honnête, o vero homen honesto, o cavalheiro.

Ser honesto não é simplesmente falar a verdade, ou apenas evitar contar mentiras, embora eu admita que é exatamente isso que nosso dicionário diz que é.

Desenvolvamos uma ideia mais rica, mais plena, mais humana, enfim, mais cristã e bíblica do significado desta palavra, e o que ela poderia significar para você ser um homem honesto.

A palavra honesto vem do latim honestus, que tem tudo a ver com honra, com o que deve ser honrado. Ser um homem honesto era ser um homem digno, um homem bom, um homem elogiado. Além disso, podia ser usado para comunicar a ideia de beleza física.

Usamos honesto, conforme o dicionário, para falar do que é casto, pudico, recatado, e só depois da castidade falamos de virtude. Segundo o dicionário da Real Academia Espanhola, honesto é definido como decente, decoroso, modesto, honrado, razoável, justo, íntegro, respeitado. É interessante notar que quando um homem é um praticante sincero e dedicado da religião, dizemos que ele é devoto ou piedoso, mas em espanhol, diz-se que ele é honesto.

A palavra francesa para honestidade é honnêteté. É integridade, plenitude (que é integridade, não é?), sinceridade, veracidade e até mesmo inocência.

Antes da era da modernidade e do especialista, antes que Descartes e Montaigne definissem como todos os homens pensariam sobre o pensar, a agonizante Idade Média da França expressou um último entusiasmo pelo homem bom, através das palavras de Blaise Pascal. Havia existido o santo. Ele fora revelado como uma fraude. Havia existido o amante cortês. Seus sonetos foram ridicularizados quase até a morte. Havia existido o cavaleiro, e ele fora mostrado, na melhor das hipóteses, como um tolo correndo atrás de moinhos de vento. Havia até mesmo o filho do cavaleiro, o cavalheiro suave de bigode e chapeau. Este seu bigode logo seria forçado a cair nos sombrios campos de batalha de Flandres e Edgehill.

O Ocidente passava por uma crise: após qual ideal o homem cristão, tanto o protestante quanto o papista, deveria se modelar? Como descrever homens como Coligny ou Philip Sidney?

Ora, como homens honestos, é claro. Homme honnêtes.

Blaise Pascal foi o maior e mais importante pensador (mas longe de ser o primeiro) a explicar o que era l’homme honnête. Se você ler seus Pensées, o que você deveria fazer, frequentemente encontrará o termo traduzido como “cavalheiro”. Michel de Montaigne, “inventor” do ensaio e contemporâneo de Cervantes, que faleceu uma geração antes do nascimento do nosso Pascal, ridicularizou o homme honnête, o cavalheiro. Ele fez isso principalmente porque era um pagão ímpio e sem Deus, e secundariamente porque acreditava que o homem ideal deveria ser um especialista. O homem honesto de Pascal, em contraste com esse conceito pagão que levou ao Iluminismo, é um generalista. Ele é equilibrado, razoável e completo. Ele não apenas compreende, mas apreende. Ele é tão poético quanto matemático. É culto sem afetação e eloquente sem artifício.

Ele não teria vergonha de abraçar a ditado do século XX, articulado por G. K. Chesterton, de que “qualquer coisa que valha a pena fazer vale a pena fazer mal.”

Ele não vê contradição em ser poeta e guerreiro, ou em usar a palavra filósofo para descrever o que hoje chamamos de cientista. Philip Sidney é mais lembrado por A Defesa da Poesia, mas morreu devido a ferimentos sofridos lutando contra os espanhóis; ele travou guerra e política durante toda a sua vida. Ele sim foi um homem honesto. Gaspard II de Coligny foi um almirante naval francês que navegou habilmente pela política e pelo combate das Guerras Religiosas e criou filhos que fizeram o mesmo, até que finalmente foi jogado de uma janela para sua morte, uma das primeiras vítimas do Massacre do Dia de São Bartolomeu. Suas últimas palavras ao seu assassino foram: “Você é um soldado jovem demais para falar assim com um velho capitão. Pelo menos respeite minha idade.” Uma rabiosa turba cortou sua cabeça, mãos e genitais, e desfilou seu corpo pela cidade. Este sim era um homem honesto.

Não é à toa, meus queridos amigos, que nossos sacerdotes hoje são Cientistas com C maiúsculo. Não é à toa que desprezamos os fracos e amamos a força bruta. Não é à toa que a vontade da maioria é automaticamente o que é certo e correto na nossa sociedade. Não é à toa que não temos conceito de justiça além de uma igualdade forçada. Não por nada, não conseguimos nem enxergar a árvore por conta da floresta.

O homem honesto não apenas diz a verdade. Ele vê, ele percebe a verdade, porque ele pode enxergar. Ele vê todos os homens, e o seu Deus, e a imagem de Deus em todos os homens. Ele não sofre da miopia do especialista.

Se você, senhor, é um especialista, considere que pode estar um pouco cego. Seja honesto consigo mesmo: generalize. Se você é engenheiro, leia um poema. Se você é poeta, construa uma ponte. Vá à guerra. Faça a paz. Viva uma vida plena, uma vida honesta; a expertise é gnóstica.

A verdade de Deus é uma só. E está em toda parte. A diversidade da Trindade é manifesta. Não é caos, e não é mônada. É um e é muitos, e, honestamente, apenas homens honestos podem ver isso.

Por fim, leiam os Pensées de Pascal, meus amigos. Isso fará bem à vossa humanidade.

Joffre Swait

Joffre Swait

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