por Dione Cândido Jr.
TER UM BOM PAI é a maior vantagem existencial que um ser humano poderia obter. Nada poderia superar algo assim, e talvez nada supere a falta. Embora Jesus tenha sido privado de tantas coisas em sua pobreza, ele não foi privado da miséria de não ter um bom pai. Ele tinha São José, o melhor pai da história humana.
As narrativas dos evangelhos apresentam São José como o motivo de Jesus ter sobrevivido na infância; antes, durante e depois da perseguição de Herodes. Quando adolescente, Jesus ficou no templo, e Maria ao encontrá-lo disse que o pai de Jesus se angustiou em procurá-lo (Lc.2,48). Frabrice Hadjadj disse que esse texto é o que mais claramente mostra como José era radicalmente pai, no modo como é tratado: “teu pai”. Jesus chamava José assim — “abba” [meu papai].
É certo que a morte de São José (apenas sugestionada nos evangelhos; tratando Jesus como “filho de José” Jo.1,45, o “carpinteiro” ausente de maneira póstuma) foi um dos episódios mais doloridos da vida de Cristo.Gosto de imaginar em como Jesus se lembrava de São José em muitos momentos da sua jornada messiânica. É inevitável que isso acontecesse. Honrar o próprio pai não era apenas humano, era memória de Lei (Êx.20,12).
Acho que José morreu nos braços de Jesus e Maria, como a tradição diz. Foi a maior benção que que um filho de Adão já obteve nesse mundo. A melhor morte de um pecador foi a morte de São José.
Devemos ser pais com São José, treinando nossos filhos para reinar com aquele Filho cujo Pai o treinou para ser Rei dos reis e Senhor dos senhores. Ser pai com São José é como se você pudesse crescer e voltar no tempo, para fazer por você mesmo o que gostaria que lhe tivessem feito. Ter um pai assim é como burlar o tempo para favorecer alguém.
Pode-se suspeitar de trapaça? O tempo foi dobrado, redimido? Bem. Um bom pai, afinal, é apenas um filho: um filho renascido fora de tempo. Um bom pai é um filho que veio doutro tempo. Ele é como São José, o melhor pai da história humana.
Dione Cândido Jr é marido e pai de três filhos, pastor e professor.
Pintura: “São José, o Trabalhador”de Pietro Annigoni (1910—1988)
