por Gabriel S. Lisboa
Há muita alegria em aniversários de casamento! Era de se esperar, afinal, a aliança entre um homem e uma mulher que se tornaram uma só carne está sendo celebrada e publicamente reafirmada mais uma vez. Votos, lágrimas de felicidade, sorrisos, abraços, poemas e cânticos. Acredito que você estranharia se, em uma cerimônia de bodas de prata, os convidados estivessem abatidos na festa, após vinte e cinco anos repletos de motivos para celebrar. A questão é que uma festa realizada por motivos legítimos está cheia de alegria, nunca de angústia. Mas por que, na festa de Cristo, muitos insistem em tratá-la com um semblante triste, rígido e contrito? Não deveria ser assim.
De fato, há um momento de lamento na liturgia dominical, que se chama “oração de contrição”, a qual ocorre no início do Culto de Renovação da Aliança, e não no final, quando o grande banquete é servido. É nesse momento que estamos tristes, angustiados, contritos e arrasados, confessando nossos pecados. Ali, o Senhor nos purifica e perdoa toda a iniquidade e maldade; então, desfrutamos logo em seguida da plena alegria em Cristo, quando, na declaração de absolvição, o Senhor nos lembra que, na cruz, todas as nossas transgressões foram pagas e que não há mais penalidade. Por esta graciosa e gloriosa razão, há motivo para festejar no gracioso e glorioso banquete.
O Dia do Senhor é a festa de Deus com Sua família, onde participamos do grande banquete da Trindade. Nosso Irmão mais velho é quem nos serve o pão e o vinho, que representam Seu corpo e sangue; ao participarmos, comemos do corpo e do sangue do nosso Senhor. Na Eucaristia, Cristo reafirma Sua aliança com Seu povo, em comunhão; é a celebração de nossa união com o Cordeiro que foi morto, mas hoje vive pelos séculos dos séculos. Na Ceia do Senhor, Deus convoca Seus filhos para se assentarem à mesa com Seu Primogênito.
A união mística e objetiva de Cristo com Seu povo, que é celebrada na Mesa, se manifesta não somente nos cânticos, onde a Segunda Pessoa da Trindade canta através de nós, ou nas orações de louvor, onde Deus é exaltado, mas também na afeição fraternal dentro da comunhão dos santos. Quando comemos o pão e bebemos o vinho, recordamos não apenas o corpo do Filho na cruz e Seu sangue vertido no madeiro, mas também que, sendo unidos a Ele no batismo, em Sua morte e ressurreição, nos tornamos um só pão, o corpo do Senhor. Assim, devemos partir o pão juntos e, como um ato que flui da unidade, compartilhar o vinho mutuamente; sorrir, abraçar, chorar de felicidade e compreender que o Sacramento da Mesa é o grande banquete de celebração, o coração da Santa Cerimônia, o centro da festa, onde Cristo é o Cabeça e nós somos um. Ora, ninguém fica triste quando um bolo é partido em um aniversário; logo, se não é assim em cerimônias terrenas, por que deveria ser em cerimônias celestiais? Nenhum de nós participa de um banquete de Natal contrito e isolado; pelo contrário, brindamos vinho felizes com nossas famílias. Por que não fazemos isso na Mesa do Senhor, quando estamos com nossa primeira e eterna família, que é a esposa de Cristo? Talvez seja porque associamos temor e reverência com tristeza e melancolia, mas não deveria ser assim. Não podemos nos esquecer de que a Eucaristia é o grande vislumbre da eternidade. Talvez você esteja associando o ato de festejar a algo ruim e sem ordem, mas isso é um erro. Nos vestimos com a melhor roupa em um casamento, ficamos em silêncio durante a cerimônia e nos levantamos quando os noivos chegam, como sinal de honra. Da mesma forma, deve haver uma reverência ainda maior, fluindo de dentro para fora pelo Espírito quando se trata do culto solene — quanto a isso, não há dúvidas, afinal, Deus abomina a profanação do culto (sim, me refiro a Nadabe e Abiú). No entanto, foi em uma festa que Cristo transformou água em vinho! O vinho está associado à alegria, e essa associação é feita pelo próprio Senhor. Há uma diferença muito grande entre reverência e olhares abatidos. O mesmo Senhor que nos chama a sermos zelosos nos chama a sermos alegres.
Comer do pão e beber do vinho é celebrar a vitória do nosso Redentor, que venceu a morte ao ressuscitar e ascender, e que um dia voltará e a morte matará. Quando nos achegamos à Mesa em comunhão, unidade, risadas e abraços, humilhamos as trevas, pois estamos apenas sendo o resultado daquilo que o Segundo Adão fez ao vencer Satanás, derrotando-o de uma vez por todas e humilhando-o diante da nova criação. Em Cristo, o povo de Deus tem seu exílio encerrado, e não há mais motivo ou razão para chorar sem cessar. O banquete do Cordeiro é o grande brado de vitória.
Devemos concordar que há motivo para temor diante do Senhor! Ele é Santo, Justo, digno de honra, não tolera a impiedade e não se agrada daqueles que praticam a iniquidade. O Senhor nos chama a temê-Lo! O sacramento da Ceia do Senhor pode trazer juízo para aqueles que participam de forma hipócrita e não deve ser ministrado a quem foi excomungado ou não professa a fé. Aqueles que buscam dividir o corpo de Cristo não devem se assentar à Mesa. Contudo, para a família de Deus, em plena comunhão, a Eucaristia é meio de graça — é remédio para os enfermos — é o banquete dos famintos, onde nossa fé é fortalecida e aumentada — é fonte da segura alegria. No partir do pão, o Senhor nos lembra de onde nos tirou: das trevas para a luz, da ira para o perdão, da mesa das trevas para a Mesa celestial.
No batismo, o Senhor declara que é o nosso Deus e que somos o Seu povo; é quando somos tirados do Egito, passando pela travessia do Mar Vermelho rumo a Canaã; é quando saímos da Babilônia e chegamos a Jerusalém. A Ceia do Senhor é a refeição daqueles que chegaram do Egito; que chegaram da Babilônia; que, como nos dias de Noé, foram salvos do dilúvio na Arca e puderam ver um mundo novo, sendo a Nova Jerusalém no centro da nova criação, onde Cristo habita e reina, expandindo Seu reino sobre as nações através da cultura que flui do grande banquete — é quando o Senhor diz novamente que é o nosso Deus e que somos o Seu povo — é quando, no Dia do Senhor, o próprio Senhor consola Seus santos com o vislumbre daquele grande e eterno Domingo, onde não haverá mais choro nem lágrima. A Mesa do Rei é alegre, pois nela desfrutamos da alegria do próprio Jesus.