
Por: Dr. Uriesou Brito
Tradução: Joéfeson Inácio Romão
Observação: Estas observações foram entregues especificamente à Igreja Providence (CREC). Espero que sejam úteis para você também.
Você já ouviu repetidamente aquela famosa frase dos Beatles: “Tudo o que você precisa é amor”. Além de um bom ritmo e algumas ótimas músicas, os Beatles estavam errados sobre tudo. Eles certamente estavam errados sobre tudo o que precisamos. Se eu fosse reformular essa famosa frase, diria que “tudo o que você precisa é adoração”. Provavelmente não será o melhor adesivo de para-choque, mas é a verdade. Você só pode encontrar a “verdadeira verdade”, como Francis Schaeffer coloca, na adoração a Deus. Não existe essa coisa de um bom cristão que não adora. Mas se você perguntar a alguém o que é adoração, poderá receber uma centena de respostas diferentes. Alguns dizem que adoração é sinônimo de música; Recentemente, ouvi um renomado estudioso1 dizer que a adoração só começa com a pregação da Palavra; ainda assim, alguns concluirão que a adoração é um sentimento que se tem quando se está na presença de Deus. Não queremos minimizar a música, a pregação e as emoções dos seres humanos na presença de Deus; mas essas definições erram o alvo. Adoração é a interação entre Deus e Seu povo no Dia do Senhor. É uma conversa sagrada entre a noiva e o noivo. A conversa não se limita a uma parte do culto, mas abrange todo o culto. Adoração é o culto completo a Deus.
A razão pela qual a adoração é tão importante na Providence Church é porque queremos que nossos membros desfrutem do recebimento das dádivas de Deus a cada Dia do Senhor.2 No culto, ouvimos as instruções de Deus e expressamos nossa gratidão a Ele. Em termos simples, “adoração é instrução divina para a batalha”. Você pode se dedicar às ciências sociais, a todos os empreendimentos culturais e políticos de nossos dias, mas se deixar de lado as instruções e os dons que Deus tem para você no Dia do Senhor, seus esforços serão em vão.
Nosso objetivo é cultivar em você e em seus filhos uma paixão santa por exaltar o Deus Trino e uma fome de receber Seus dons quando nos congregamos.
A maneira como isso se expressa em nossa congregação é através do que chamamos de Culto de Renovação Pactual. Este é um padrão bíblico que pode ser encontrado de Gênesis a Apocalipse.3 Podemos definir o Culto de Renovação Pactual de muitas maneiras, mas, em termos simples, o CRP é a principal maneira de Deus te remodelar e refazer à Imagem de Cristo. O principal meio de Deus santificar você é por meio da adoração. Ao se reunir com o povo de Deus, Ele está fortalecendo e renovando Suas promessas para nós como Seu povo. Você quer ser lembrado semanalmente da graça e misericórdia de Deus em Jesus Cristo? Você quer amadurecer na fé, crescer no amor uns pelos outros, encontrar segurança e ser instruído sobre como viver a vida de fé? Venha e cultue!
Este padrão de adoração é-nos revelado de muitas maneiras, mas principalmente por meio do sistema sacrificial da Antiga Aliança. Deus renova sua aliança conosco por meio do sacrifício. Você pode dizer: “Mas não oferecemos mais sacrifícios”; ao que eu digo: “exatamente”. Deus não tem mais prazer em receber ofertas de animais queimados. Agora, ele tem prazer em receber ofertas humanas vivas. Nós somos o sacrifício vivo de Deus. Paulo diz em Romanos 12 que nosso culto racional – isto é, nossa liturgia racional – é “oferecermos-nos como sacrifícios vivos”.4
No Dia do Senhor, o próprio Deus se aproxima para aproximar Seu povo.5 Na adoração, Deus nos chama; então, Ele nos humilha quando confessamos nossos pecados; então, Ele nos lembra quem somos em Cristo; Ele nos tira do pó; então, Ele nos corta com Sua espada de dois gumes; Nossas consciências são perfuradas, recebemos Suas instruções, aprendemos a viver, e então Ele diz: “Acho que vocês precisam de comida; vocês já passaram por muita coisa. Eu sou o seu anfitrião, mas, além disso, sou o seu Pai; então, vou lhes dar comida e bebida; vou edificá-los, restaurá-los e revigorá-los com o meu descanso, e então, e somente então, os enviarei ao mundo para serem meus fiéis embaixadores e representantes.”
Vejam, esta é a imagem da adoração: Deus está, aos poucos, nos fortalecendo como seus filhos; amadurecendo-nos em sua sabedoria e preparando-nos para ser o povo orientado para o domínio que somos chamados a ser.
Deixe-me abordar biblicamente duas questões:
Primeiro, quero abordar o nosso chamado à presença de Deus e, em seguida, o padrão sacrificial que modelamos em nossa adoração.
Primeiro, Deus nos chama à sua santa presença. Por meio do Espírito, ascendemos ao monte santo onde Deus habita. Estamos na presença de anjos e arcanjos. De fato, Paulo diz que estamos assentados em lugares celestiais (Efésios 1.3). Hebreus 10 diz: “…não deixemos de nos reunir/congregar”. Este é certamente um chamado para estar na igreja, mas o contexto de Hebreus 10 indica que, na verdade, é um chamado para ir ao céu. Hebreus 10 trata de entrar no Santo dos santos no céu; ser chamado para entrar com ousadia na presença de Deus (10.19).6 O escritor aos Hebreus conecta essas ideias. Somos ousados em entrar na presença de Deus não por causa de algo em nós, mas porque ele nos chama à sua presença. Este é o nosso chamado sagrado. Não estamos apenas vindo nos encontrar em um edifício; estamos vindo para participar de um dever celestial. Certa vez, Douglas Wilson escreveu que:
“Quando entendemos o que realmente está acontecendo em um culto, nossa irreverência contemporânea evapora”.7
Mas para que estamos sendo chamados? Não é incomum dizermos que estamos vindo adorar para glorificar a Deus; isso é verdade, mas a adoração é um momento em que Deus serve-nos. A razão pela qual precisamos da Igreja e a razão pela qual precisamos estar aqui em adoração todos os domingos é porque Deus está nos servindo com Seus dons. A adoração tem tudo a ver com a soberania de Deus; o Deus todo-poderoso chamando seu povo para cobri-lo com todas as bênçãos. A única coisa que damos a Deus em adoração é nossa vida. É por isso que a adoração é sacrificial. Somos o sacrifício vivo a Deus. Somos chamados porque Deus quer quebrar-nos e reconstruir-nos de uma forma mais bela e madura. A adoração é dolorosa porque confronta-nos como um povo pecador e necessitado. Deus precisa cortar-nos e renovar-nos. Se você quer uma experiência de adoração fácil, você quer uma experiência que não é baseada nas Escrituras, porque ser um sacrifício vivo a Deus não é um chamado fácil.
Precisamos ser lembrados de que não estamos chamando Deus para se encontrar conosco; Deus está chamando-nos para nos encontrarmos com Ele. “Do céu, ele nos chama à sua presença”.8
A segunda e última observação é que a adoração segue um padrão sacrificial. De fato, o Novo Testamento está repleto de imagens sacrificiais. Você lerá termos como “oferecer-se”, “purificação”, “o Cordeiro de Deus”, “cortar”, “dividir”, “comer”, “aroma”, “agradável” etc. Todos esses são termos sacrificiais. O sistema sacrificial foi abolido, mas os escritores do Novo Testamento retomam a imagem porque ela reflete quem somos; somos um povo disposto a ser morto por Deus para que sejamos renovados por ele. A adoração é um chamado para morrermos para o pecado, como diz São Pedro.9 São Paulo diz em 1 Coríntios que morre diariamente.10
Na Antiga Aliança, os sacrifícios tinham uma ordem específica. Você não podia se aproximar e fazer o que achasse melhor; em vez disso, seguiria uma ordem; era uma ordem que fazia sentido em como Deus lida com seu povo.
Havia três ofertas que eram comumente encontradas juntas,11 e frequentemente seguiam uma ordem específica (Lv 9; 2 Crônicas 29.20-36). Havia uma oferta pela culpa (Lv 17). Em seguida, vinha a oferta da ascensão [holocausto] (Lv 16.24-25). E a terceira era a oferta pacífica (Dt 12.17-19). Todas essas ofertas correspondiam a algo. A oferta pela culpa tornava o adorador apto a entrar na presença de Deus. Na segunda – que é a oferta da ascensão – o adorador ascendia a Deus na fumaça de uma oferta, e a oferta pacífica era uma demonstração tangível de que Deus havia recebido o adorador e estava disposto a compartilhar a comunhão com ele em uma refeição comum.12 É exatamente isso que fazemos na adoração. Chegamos como sacrifício de Deus à sua casa, ascendemos ao céu como Isaías no capítulo 6 e como João na ilha de Patmos, e então somos perdoados; estamos em paz com Deus depois que ele perdoa nossos pecados. Tudo o que acontece após nossa confissão de pecado é uma grande festa. Não há mais tempo para chorar e ajoelhar, apenas risos, cânticos altos e banquete.
Gostaria de concluir com algumas observações gerais para aqueles que consideram se juntar à Providence em março:
Primeiro, você não precisa entender todas as nuances do Culto da Renovação Pactual para se juntar à Providence, mas precisa participar dele. Não faz sentido se juntar a uma igreja se você não pretende participar de seu ato mais central. Como um Conselho, queremos encorajar cada um de vocês – jovens e idosos – a se juntar fielmente a esta atividade celestial. O culto é uma cultura e, assim como qualquer outra cultura, você precisa familiarizar-se com ela, estudá-la e abraçá-la.
Em segundo lugar, o Culto da Renovação Pactual preocupa-se não apenas com a forma, mas com o conteúdo. Não basta ter toda a forma, mas nenhum conteúdo. Você notará que todo o nosso culto é inteiramente bibliocêntrico. Ele é repleto de passagens bíblicas que ilustram e exemplificam o que estamos fazendo e o que está acontecendo no culto. Quando você se junta à liturgia, você se torna mais bíblico; você se torna mais sintonizado com a música de Deus. O culto o transforma, Porque a revelação de Deus o transforma.
Finalmente, a adoração é pactual. Este culto não é organizado para satisfazer o intelecto. Você será intelectualmente estimulado, mas este culto é para a criança pequena e para o homem comum. Não estamos na igreja simplesmente para ouvir um sermão; estamos aqui para dialogar com Deus, receber suas instruções e ser sacrifícios vivos diante Dele. Quando digo que a adoração é pactual, quero dizer que é para você e seus filhos. Queremos que pai, mãe, filho e filha participem. Nos recusamos cair na armadilha de separar os filhos dos pais. Se o reino de Deus pertence às crianças, então é melhor você acreditar que a adoração também pertence a elas.
¹ James R. White em seu programa Dividing Line
² É claro que há um sentido em que a adoração ocorre a todo momento, mas, primária e biblicamente, a adoração é a assembleia corporativa e reunida no Dia do Senhor.
³Para uma excelente introdução, veja o capítulo um do livro do meu bom amigo Jeff Meyers: “The Grace of Covenant Renewal Worship“.
4 Jeff Meyers, p. 73.
5 Meyers, p. 73.
6 Douglas Wilson, A Primer on Worship and Reformation, p. 35.
7 Ibid, p. 36.
8 Jeff Meyers, p. 176.
9 1ª Pedro 2:24.
10 15:31.
11 A maior parte deste parágrafo vem de “A Primer on Reformation and Worship“, de Douglas Wilson, p. 37.
12 Você pode encontrar isso no livro de Meyers de forma mais completa.