
por Jarrod Richey (tradução de Joefson Inacio Romão)
Definindo Hinos
O que é um hino? É um cântico de louvor, geralmente voltado para adoração, da palavra grega hymnos. O hinólogo Carl F. Price amplia isso afirmando:
“Um hino cristão é um poema lírico, concebido com reverência e devoção, que é projetado para ser cantado e que expressa a atitude do adorador em relação a Deus ou aos propósitos de Deus na vida humana. Deve ser simples e métrico em sua forma, genuinamente emocional, poético e literário em seu estilo, espiritual em sua essência e, em suas ideias, tão direto e imediatamente perceptível que unifica uma congregação enquanto canta.”
A definição de Price mostra a qualidade multifacetada da hinologia como uma forma de arte que realiza simultaneamente várias funções. Essa é a definição definitiva? Não. Mas nos ajuda a ver a hinologia de maneira mais tridimensional? Acho que sim. O hinólogo David W. Music também afirmou que “hinos são simples em sua forma, mas podem ser estudados de várias maneiras: como poesia, como música, como teologia, como veículos para adoração, evangelismo, educação religiosa, ministério e comunhão, e como artefatos históricos e culturais.”
Definindo Salmos
Agora, um salmo é um cântico de louvor, palavra também de origem grega, que era originalmente cantado com uma harpa. Refere-se explicitamente aos cânticos dos 150 capítulos do livro dos Salmos no Antigo Testamento. Muitos na igreja cristã cantaram os Salmos na forma de cantochão, entoando o texto com um tom ou tons elevados. A igreja também escreveu versões em prosa metrificada dos Salmos, historicamente chamadas de “Salmos Métricos”, ou seja, salmos traduzidos em versos poéticos com rima e métrica. Pode-se argumentar que, embora muitos desses salmos métricos sejam traduzidos de forma próxima ao fluxo e ao significado hebraico do texto original do Salmo, ainda assim são paráfrases artísticas que poderiam ser legitimamente chamadas de hinos baseados naquele salmo específico, assim como associamos rapidamente o texto de Isaac Watts, “Nosso Deus, nosso socorro em eras passadas”, a um hino sobre o Salmo 90, mais do que a uma tradução do Salmo ou um Salmo Métrico. Ou, semelhantemente, pense no texto “Castelo Forte é Nosso Deus”, de Martinho Lutero, baseado no Salmo 46. Embora seja um texto metrificado, seria mais preciso chamá-lo de um hino baseado no Salmo 46 do que uma versão métrica exata do Salmo 46. Basta olhar para o Salmo 46.3 e perceber que Lutero, exercendo liberdade criativa, optou por não traduzir ou enfatizar “as águas rugem e se perturbam” (ARA) do texto. Em vez disso, ele molda seu hino em termos da obra de Deus e nossa vitória sobre mal, Satanás. Não há nada de errado nisso, e de forma alguma desejo desencorajar o canto desse hino. O ponto é que devemos compreender a intersecção entre os salmos métricos e a chamada hinódia e ser sábios no uso dessas proveitosas formas musicais.
Historicamente, igrejas cristãs e denominações tendem a cantar as Escrituras de diversas maneiras (cantochão, canto anglicano e outras formas históricas) ou a cantar versões métricas e hinos baseados nos Salmos. Como alternativa, os cristãos deveriam ter uma visão da “Grande Tenda” da Salmodia e da Hinódia. Nossas igrejas devem priorizar o canto e a maturação no canto participativo, para que não nos limitarmos apenas ao cantochão ou ao canto do salmo métrico. Em vez disso, devemos ser gratos e flexíveis ao utilizar tanto o canto [de hinos] como o de Salmos Métricos de maneira sábia, e até mesmo de composições como aquelas achadas no Cantica Sanctorum, coleção de salmos composta por David R. Erb.
Inclusivo, não exclusivo
Colocando de forma provocativa, devemos ser “salmodistas inclusivos”, não no sentido atual de linguagem inclusiva e diluição do texto para se adequar ao que as convenções modernas dizem. Pelo contrário, devemos incluir uma ampla gama de formas e estilos onde houver mérito. Queremos uma “Grande Tenda”, reflexiva e graciosa, onde traduções fiéis e composições proveitosas sejam usadas para nos ajudar a meditar ainda mais nas palavras inspiradas da Escritura. Esse é o ideal pelo qual os cristãos deveriam trabalhar, em vez dessas “Guerras do Saltério”, onde os cantores de Salmos em hinos são colocados contra aqueles da Salmodia métrica exclusiva. Precisamos de uma abordagem sábia e grata e de uma “Grande Tenda”, que receba todas as composições apropriadas e proveitosas que nos ajudam a meditar e cantar a Palavra de Deus em salmos e cânticos e outros arranjos musicais das Escrituras.
Em outras palavras, devemos cantar não apenas o Salmo 23 diretamente de traduções bíblicas autorizadas em várias formas de canto, mas também as versões métricas e hinos dos saltérios de Genebra e mesmo da Escócia ao longo do tempo, como “The Lord’s My Shepherd I Shall Not Want [O Senhor é meu pastor, não devo temer]” ou “The King of Love My Shepherd Is [O Rei do amor é o meu pastor]”, e assim por diante. Podemos desenvolver nossos músculos musical e escriturístico para cantar e ouvir muitos desses comentários em prosa ou sermões em forma de canto de salmos que chamamos de salmos métricos e hinos. Nossas igrejas estariam melhores, não piores, desde que isso seja feito de maneira equilibrada e reflexiva, reconhecendo a capacidade musical e teológica do nosso povo, e simultaneamente admitindo o fato de que nem todas as composições são teológica ou musicalmente iguais e acessíveis para o nosso povo cantar, teologicamente sólidas para serem cantadas. Aqui é necessário aplicar sabedoria.
Conclusão
Precisamos de uma abordagem equilibrada e historicamente informada para a música na igreja, e não de “Guerras do Saltério”. Queremos promover um ambiente onde a congregação inteira participe mais e mais, cresça em entendimento, e aprecie o grande presente da música da igreja que nos foi transmitido ao longo dos séculos. A partir dessa “Grande Tenda” podemos, de maneira grata, apoiar-nos sobre os ombros dessa grande tradição e construir sobre ela novas e mais gloriosas composições ao longo do tempos.