
Por Paul Liberati
Quando Deus entra em aliança com o Seu povo, há sempre um elemento de adoção envolvido: Deus se torna Pai deles, e eles se tornam Seus filhos. E sempre foi assim. Nas Escrituras, até mesmo o relacionamento de Adão com Deus é expresso em termos de filiação (Oséias 6:7; Lucas 3:38), destacando a dimensão filial da aliança na qual ele foi criado. Mais tarde, após sua Queda e a restauração por Deus em Cristo, esse relacionamento estava disponível para aqueles que renovaram sua aliança com Deus e mantiveram a verdadeira adoração ao Senhor (Gênesis 4:26). Eles foram chamados de filhos e filhas de Deus, enquanto o restante do mundo foi chamado de filhos e filhas dos homens (Gênesis 6:2).
Eventualmente, Deus introduziu sinais iniciatórios para o Seu povo marcar e confirmar a sua entrada neste relacionamento. Primeiro, Ele introduziu a circuncisão, que durou todo o período do Antigo Testamento. Depois, Ele introduziu o batismo como o novo sinal, que continua até hoje a ser o rito iniciatório de entrada na aliança da graça. Embora os dois sinais sejam diferentes em suas formas externas, sua função é praticamente idêntica. Por meio desses ritos sacramentais, homens, mulheres e crianças foram, e são, adotados na família de Deus
Adoção por meio da Circuncisão
Para entender a relação entre a circuncisão e a adoção no Antigo Testamento, considere a pergunta feita em Romanos 3:1 sobre os benefícios especiais desfrutados por Israel devido a esse rito. Paulo pergunta: “Que vantagem tem, pois, o judeu, ou que proveito há na circuncisão?” No versículo 2, ele dá a primeira parte da resposta, mencionando apenas o fato de que os israelitas eram os guardiões escolhidos da revelação escrita de Deus: “A eles foram confiados os oráculos de Deus”. Porém, mais tarde, em Romanos 9, ele nos fornece o restante da resposta ao reunir vários outros benefícios que eles experimentaram, incluindo a presença da glória de Deus, as alianças, a entrega da lei, o serviço de adoração a Deus e as promessas. Mas observe que bem no topo da lista está a bênção de serem filhos adotivos de Deus: “A eles pertence a adoção (Romanos 9:4).”
Embora alguns argumentem que essa relação foi estabelecida quando Deus formou Israel como nação no Monte Sinai, essa visão não fornece a explicação mais abrangente. O Senhor pode ter renovado a adoção ali, mas Ele já era o Pai deles quando os tirou do Egito. Isso fica evidente na declaração de Moisés ao rei do Egito: “Assim diz o Senhor: Israel é meu filho, meu primogênito. Portanto, eu te digo: Deixa ir meu filho, para que me sirva” (Êxodo 4:22-23). Da mesma forma, o Senhor declarou por meio de Oseias: “Quando Israel era menino, eu o amei; e do Egito chamei o meu filho” (Oseias 11:1).
Uma explicação mais precisa situa a conexão inicial entre circuncisão e adoção na época de Abrão, quando o rito foi introduzido pela primeira vez em Gênesis 17. Essa conexão se torna cada vez mais clara à medida que observamos que Deus estabeleceu Sua aliança com Abrão em duas etapas distintas. Primeiro, Ele mudou o nome de Abrão para “Abraão” (vv. 1-8) e Sarai para “Sara” (vv. 15-16), marcando o início de uma nova família da aliança. Segundo, Ele introduziu a circuncisão como o selo de sua nova identidade (vv. 9-14). Daí em diante, a circuncisão tornou-se o rito de iniciação na família da aliança — o meio pelo qual a filiação era concedida e garantida.
Antes de passarmos para o Novo Testamento, dois pontos merecem um breve esclarecimento. Primeiro, embora a adoção do povo de Deus tenha uma dimensão corporativa, permitindo a designação coletiva de toda a comunidade como “Meu filho”, esse aspecto corporativo apenas reforça a realidade da filiação individual. A expressão “Meu filho” é frequentemente pluralizada para destacar essa dimensão individual, como visto em Deuteronômio 14:1: “Vós sois filhos do Senhor, vosso Deus”, e em Deuteronômio 32:19: “Quando o Senhor viu isso, rejeitou-os por causa da provocação de seus filhos e de suas filhas” (cf. Malaquias 2:10). Portanto, não há necessidade de contrastar o “corporativo” com o “individual”, como alguns podem sugerir.
Segundo, embora a aplicação da circuncisão fosse regida pelo princípio da liderança e representação masculina, essa prática não impedia a inclusão feminina na aliança. Enquanto Abraão era filho adotivo de Deus por meio da circuncisão, Sara tornou-se filha adotiva de Deus por meio de sua união com Abraão, visto que os dois eram uma só carne. Consequentemente, as mulheres em Israel eram consideradas circuncidadas em virtude da liderança de seus pais, enquanto as mulheres estrangeiras que se casavam em Israel eram circuncidadas por meio de seus maridos israelitas. Esse padrão persistiria através das gerações até que a Semente, para a qual a circuncisão apontava, finalmente chegasse.
Adoção pelo Batismo
No Novo Testamento, a circuncisão é substituída pelo batismo (Colossenses 2:11-12). Consequentemente, não somos mais adotados na família de Deus pelo corte da nossa carne (Gálatas 6:15), mas pela lavagem da regeneração e renovação do Espírito Santo (Tito 3:5). Embora várias passagens das Escrituras possam ser usadas para mostrar a conexão entre batismo e adoção, nos concentraremos em duas seleções específicas.
O Batismo de Jesus
Primeiro, essa conexão é proeminentemente ilustrada no Batismo de Jesus. Embora Jesus fosse, seja e continue sendo o Filho eterno de Deus, foi em Seu batismo que Sua filiação como homem foi publicamente declarada.[1] Quando Ele emergiu da água, os céus se abriram, o Espírito desceu e o Pai proclamou dos céus: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3:16-17). Notavelmente, não foi durante a Sua circuncisão, mas no Seu batismo, que Jesus foi abertamente reconhecido como Filho de Deus. Além disso, não foi na Sua infância, mas durante a Sua tentação no deserto — imediatamente após o Seu batismo — que Satanás começou a questionar a Sua condição de Filho de Deus (Mateus 4:3, 5). Esta observação não sugere que a Sua circuncisão não tivesse importância na afirmação da Sua identidade; pelo contrário, destaca que, na transição da Antiga Aliança para a Nova Aliança, Deus deseja que reconheçamos uma clara conexão entre o batismo e a filiação.
Além da declaração verbal, a doação do Espírito Santo desempenha um papel crucial. Novamente, embora em Sua natureza divina Jesus estivesse em união perfeita e perpétua com o Espírito Santo, o Seu recebimento do Espírito no Seu batismo diz respeito especificamente à Sua humanidade. Assim, quando consideramos esses elementos em conjunto, podemos afirmar que o batismo de Jesus Cristo serviu como Sua cerimônia de adoção, marcando o momento em que o Pai O declarou publicamente como Seu Filho e Lhe concedeu o Espírito de adoção.
Hoje, quando uma pessoa é batizada, ela também entra em um relacionamento adotivo com o Pai. Ao se unir a Jesus Cristo, ela participa da filiação de Jesus de forma real e pactual. Como resultado, Deus lhe concede o mesmo Espírito de adoção. “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2:38). E “Porque sois filhos, Deus enviou aos vossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai” (Gálatas 4:6).
O Batismo dos Gálatas
Em segundo lugar, essa conexão está implícita no batismo dos Gálatas. Em Gálatas 3:26, Paulo declara: “Todos vocês são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo”. Surge a pergunta: Como Paulo sabe que “todos” os gálatas são filhos de Deus? Ele esclarece: “Pois todos vocês que foram batizados em Cristo já se revestiram de Cristo” (v. 27).
Quando nossos irmãos batistas se deparam com isso, frequentemente levantam uma objeção: se o batismo inicia um relacionamento adotivo com Deus, por que Paulo diz que somos filhos de Deus “pela fé” em vez de dizer que somos filhos de Deus “pelo batismo”? A resposta é direta: objetivamente falando, essas declarações são equivalentes na perspectiva de Paulo. Para Paulo, todo batizado é considerado um crente em Jesus Cristo. Por quê? Porque Paulo vê cada pessoa através de uma lente de aliança, avaliando-a de acordo com sua posição e identidade objetivas, em vez da condição interior e subjetiva de seu coração. Dessa perspectiva pactual, Paulo pode dizer: “Todos vocês são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos vocês que foram batizados em Cristo se revestiram de Cristo”. Em outras palavras, o batismo de uma pessoa serve como prova de que ela é um filho adotivo e crente de Deus.
É importante notar que a abordagem de Paulo ao batismo reflete sua abordagem à circuncisão em sua teologia. Toda a nação de Israel desfrutava do privilégio de ser o povo adotivo de Deus, um status conferido pela circuncisão. Como Paulo afirma em Romanos 3:1 e 9:4 combinados, isso significa que toda pessoa circuncidada em Israel deveria ser considerada um crente fiel em virtude de sua circuncisão, a menos e até que manifestasse um coração de incredulidade. Em outras palavras, se uma pessoa nunca manifesta um coração de incredulidade, ela deve ser considerada um verdadeiro filho de Deus precisamente porque foi circuncidada na família de Deus.
Para nossos irmãos batistas, isso pode soar peculiar e forçado. No entanto, foi o próprio Deus quem estabeleceu tal estrutura pactual. Inicialmente, Deus introduziu a circuncisão a Abraão como um sinal da fé de Abraão. Como Paulo explica em Romanos 4:11: “Abraão recebeu o sinal da circuncisão como selo da justiça que tinha pela fé, sendo ainda incircunciso.” Assim, sabemos que Abraão tinha fé antes de ser circuncidado, visto que a circuncisão deveria ser um sinal da fé que ele já possuía. Isso pode ser chamado de Circuncisão do Crente: crer e então ser circuncidado.
No entanto, essa não é toda a história. Deus também instruiu Abraão a aplicar o mesmo sinal a todos os meninos de sua casa. Isso significava que o sinal da fé deveria ser dado a bebês do sexo masculino a partir de oito dias de idade. Consequentemente, esses bebês israelitas estavam recebendo o sinal da fé. O que significava para uma criança tão pequena receber o sinal da fé?
De uma perspectiva da aliança, significava que toda criança circuncidada deveria ser considerada um filho adotivo e crente de Deus, a menos e até que demonstrasse o contrário. Ver uma pessoa do ponto de vista da aliança envolve vê-la em termos de seu status objetivo e relacionamento com Deus, não de sua condição interior e subjetiva. Isso significa que se podia olhar para todos os meninos israelitas de quatro anos nos dias de Abraão e dizer com confiança: “Todos vocês são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo”. Todos aqueles meninos haviam recebido o sinal da fé e eram membros da família da fé. A menos e até que se voltassem para uma vida má e desobediente, ninguém tinha o direito de tratá-los como nada além de filhos adotivos e crentes de Deus.[2]
Em Gálatas 3, Paulo aplica ao batismo o mesmo raciocínio que usou à circuncisão. Sua teologia permanece consistentemente pactual quando diz a todos os membros de todas as igrejas da Galácia: “Todos vocês são filhos de Deus pela fé em Jesus Cristo, pois todos quantos foram batizados em Cristo se revestiram de Cristo.”
Neste momento, surge outra pergunta típica, mas desta vez vinda de nossos irmãos presbiterianos: Este ensino é verdadeiramente reformado? Podemos responder com outra pergunta: João Calvino era verdadeiramente reformado?
Brincadeiras à parte, considere como Calvino faz as mesmas conexões apresentadas aqui — conexões entre a circuncisão, o batismo de Jesus, o nosso batismo, a doação do Espírito Santo e a filiação adotiva:
- “É incontestável que o batismo substituiu a circuncisão e exerce a mesma função.”[3]
- “Pois assim como a circuncisão era uma espécie de distintivo para os judeus, assegurando-lhes que eram adotados como povo e família de Deus, e era sua primeira entrada na Igreja… assim também agora somos iniciados pelo batismo, para sermos alistados entre o Seu povo.”[4]
- “O batismo é o sinal iniciático pelo qual somos admitidos à comunhão da Igreja, para que, enxertados em Cristo, sejamos considerados filhos de Deus.”[5]
- “Pois [Jesus] consagrou e santificou o batismo em Seu próprio corpo, para que o tivesse em comum conosco como o mais firme vínculo de união e comunhão que Ele se dignou a formar conosco; e, portanto, Paulo prova que somos filhos de Deus, pelo fato de nos revestirmos de Cristo no batismo (Gálatas 3:26-27).”[6]
- “No [batismo] somos revestidos de Jesus Cristo e recebemos o Seu Espírito, desde que para que não nos tornemos indignos das promessas que nos são feitas nele”.[7]
Claramente, Calvino foi capaz de traçar os contornos da teologia da aliança de Paulo, reforçando o vínculo entre o batismo e nosso relacionamento adotivo com Deus.
Dimensões Objetivas e Subjetivas
Anteriormente, eu disse algo que pode ter chamado sua atenção. Eu disse que todo batizado deve ser “considerado” como um filho adotivo e crente de Deus “a menos e até que demonstre o contrário”. Isso levanta um ponto importante a ser considerado. Temos falado sobre a posição e a identidade objetivas do cristão batizado, não sobre a condição espiritual interior de seu coração. Para entender como tal distinção se aplica à graça da adoção, precisamos apenas considerar o ato de adoção como o praticamos hoje.
Pense em um menino que entra no tribunal para sua cerimônia de adoção. Lá, ele vê o juiz, o advogado, seus pais adotivos e membros de sua família adotiva. Para resumir o que acontece nesse evento, podemos dizer: o menino que sai do tribunal não é o mesmo que entrou. Seu nome era Robert Stone quando entrou, mas ele sai como Robert Brighthart, o mais novo membro da família Brighthart. Em virtude da cerimônia de adoção, ele agora é o mais novo membro da família Brighthart. Ele tem um novo nome, novos pais, novos irmãos e inúmeros outros novos privilégios e responsabilidades que correspondem à sua nova identidade.
Mas é precisamente aqui que entra em jogo a distinção entre realidades objetivas e subjetivas. Embora a cerimônia de adoção tivesse o poder de mudar a identidade daquele menino, não prometia mudar a disposição de seu coração. Portanto, embora esses pais amem e cuidem de seu novo filho, a pergunta permanece: ele os amará, honrará e obedecerá em troca? Tal pergunta não pode ser respondida com “certeza decretada” da perspectiva da aliança, porque só o tempo dirá. É possível que, mesmo com todo o amor, cuidado e apoio que recebe, Robert possa crescer e desprezar e renegar seus pais em troca.
Mas aqui, devemos ser absolutamente claros. Se isso acontecer, não podemos dizer que ele nunca foi um filho “de verdade” ou que nunca foi “verdadeiramente” adotado, pois isso seria falso. Robert foi adotado pela família Brighthart em virtude de uma transação de aliança real. O problema, portanto, não é que a graça da adoção nunca lhe foi dada; O problema é que ele cresceu rejeitando a graça que lhe foi dada em sua adoção.
Infelizmente, esse menino faria com seus pais o que muitos israelitas fizeram com seu Pai celestial. Pois Deus declarou no tribunal da criação: “Ouvi, ó céus, e dá ouvidos, ó terra! Pois o Senhor falou: Criei e criei filhos, mas eles se rebelaram contra mim” (Isaías 1:2). Observe atentamente que as mesmas pessoas são chamadas tanto de “filhos” de Deus quanto de “rebeldes” contra Ele. Essas crianças cresceram rejeitando Aquele que as criou e as nutriu como Pai. Então, novamente, isso destaca a diferença entre realidades objetivas e subjetivas. Objetivamente, eles eram Seus filhos por adoção e graça, mas subjetivamente, seus corações não se alinhavam com essa realidade.
A boa notícia é que o amor, mesmo ausente no momento da adoção, pode se desenvolver com o tempo. Sob a poderosa influência do amor de um bom pai, qualquer criança pode ser movida ao arrependimento, à fé e à gratidão sincera pelo amor que lhe foi demonstrado. Como diz a Escritura: “a bondade de Deus conduz ao arrependimento” (Rm 2:4). Isso pode acontecer gradual ou repentinamente, em particular ou à vista de toda a comunidade da igreja. Em ambos os casos, precisamos ser graciosos, humildes e pacientes em nossas avaliações da vida de outra pessoa. Afinal, sem uma denúncia verbal de Jesus Cristo, é simplesmente impossível para alguém determinar a condição precisa do coração de outra pessoa com absoluta certeza. De fato, Jesus nos adverte contra todas as tentativas de separar o que parece ser “joio” do restante do “trigo” (Mateus 13:27-29). Além disso, o jardineiro na Parábola da Figueira Estéril (Lucas 13:6-9) nos deu um exemplo a seguir. Ele queria nutrir e cuidar da árvore de aparência doentia por mais uma temporada antes de cortá-la. Este homem permaneceu esperançoso e sabiamente evitou qualquer conclusão prematura sobre a verdadeira condição da árvore, sabendo que com mais tempo a árvore poderia virar uma nova folha, reviver e dar frutos em abundância.
Jesus, Judas e Realidades Objetivas
Portanto, se todos os batizados devem ser considerados “crentes” e “fiéis” do ponto de vista da aliança até que manifestem um coração de incredulidade, não deveríamos esperar ver um exemplo claro disso nas Escrituras? A resposta é sim e, de fato, esperamos. O melhor exemplo é como Jesus tratou e considerou Judas, mesmo que Judas tivesse um coração infiel. Curiosamente, João 6:64 diz: “Jesus sabia desde o princípio quem eram os que não criam e quem o havia de trair”, referindo-se a Judas Iscariotes. Portanto, quer Judas tenha sido hipócrita desde o princípio, quer tenha crido por um tempo e depois se afastado (Lucas 8:13), Jesus podia ler seu coração em todos os pontos (João 2:23-25) e sabia exatamente o que Judas estava planejando (Mateus 26:21). No entanto, até o momento em que Judas se desviou abertamente da fé, Jesus continuou a considerá-lo um membro vivo e crente da igreja. Isso é comprovado pelo fato de Jesus ter administrado a Ceia do Senhor a Judas juntamente com os outros apóstolos, indicando que, em termos de seu status objetivo de aliança, Judas era um “membro em boa posição” na igreja e na aliança de Deus.
Alguns teólogos questionam se Judas participou da Ceia do Senhor, mas a Bíblia é clara e não deixa espaço para debate. Em Lucas 22:19-23, Judas é mencionado como estando “com Jesus” e “à mesa” durante a Ceia do Senhor: “E, tomando o pão, deu graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.” Semelhantemente, depois da ceia, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós. Mas eis que a mão do meu traidor está comigo à mesa.”
Mas Jesus era o único que conhecia o plano de Judas. Quando Ele mencionou a traição à mesa, os discípulos questionaram entre si quem faria isso (v. 23). Como homens finitos, eles não tinham acesso ao conhecimento do Senhor sobre o estado do coração de qualquer homem, e Jesus nunca pretendeu dar-lhes esse acesso. Hoje, cristãos e ministros estão na mesma posição que os apóstolos estavam naquela noite. Somos chamados a viver e operar dentro da comunidade da aliança com base em critérios visíveis. Este é o modelo que Jesus nos deu por seu próprio exemplo e é o modelo que Ele espera que usemos. Ele espera que consideremos todos os homens de acordo com sua posição objetiva na aliança e não com a disposição secreta de seus corações, que somente Ele pode ver.
Notas
[1] Que o batismo de Jesus tinha uma referência importante à Sua humanidade pode ser visto ainda mais em João 1:30-34, onde João disse que veio batizar a fim de revelar o Filho de Deus a Israel (compare v. 31 e 34) e ainda assim procedeu a apresentar Jesus em termos de Sua natureza humana, dizendo: “Este é Aquele de quem eu disse: ‘Depois de mim vem um Varão que é antes de mim, porque Ele era primeiro do que eu.’” Da mesma forma, quando Satanás veio a Jesus no final de Seu jejum de quarenta dias, tentando-O a agir independentemente de Seu Pai, dizendo: “Se Tu és o Filho de Deus [i.e. como foi declarado em Seu batismo], então transforme estas pedras em pães”, Jesus resistiu mantendo Sua dependência humana de Deus: “Está escrito: Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.” (Mateus 4:4) Assim, vemos que a filiação que foi declarada no batismo de Jesus tinha referência especial (embora talvez não exclusiva) à Sua humanidade.
[2] Em Marcos 9:42, Jesus diz: “E qualquer que escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma pedra de moinho e fosse lançado no mar.” Nessa declaração, Jesus demonstra que mesmo o membro mais jovem da Aliança deveria ser considerado um “crente” e, portanto, receber toda a honra e proteção do povo de Deus. O único outro significado possível (e absurdo) é que é aceitável ofender um pequenino que pertence à Aliança, desde que ele não seja um “verdadeiro” crente em Cristo!
[3] João Calvino e Henry Beveridge, Institutas da Religião Cristã, vol. 3 (Edimburgo: The Calvin Translation Society, 1845), 354;
[4] Ibid, 328;
[5] Ibid, 328;
[6] Ibid, 332;
[7] João Calvino, Uma reformulação do Catecismo de Genebra, escrita aqui.