Os Códigos familiares do Novo Testamento: Claros ou Obscuros?

Por: C. R. Wiley

Na minha antiga igreja, nunca líamos os códigos familiares. (A igreja à qual me refiro aqui é a denominação em que servi por quase 20 anos .)

A que códigos me refiro? Estes: Efésios 5:22-6:9 , Colossenses 3:18-4:1 , 1 Pedro 2:13-3:7 , 1 Coríntios 11:2-16 .

Nunca os líamos do púlpito e, se conseguíssemos ignorá-los em pequenos grupos de estudo bíblico ou na Escola Dominical, fazíamos isso. E ninguém se oporia; pelo contrário, suspiros de alívio poderiam ser ouvidos.

No entanto, essas pessoas boas alegavam acreditar na inspiração plena das escrituras. Mas isso nunca me convenceu: ou os códigos são inspirados, ou não. Se são, devemos lê-los. Se não são, devemos dizê-lo.

Como acredito que eles são inspirados, deixei aquela igreja (por esse motivo, entre outros). Mas alguns dos meus velhos amigos parecem ter reconciliado a fé com a prática e agora dizem que algumas partes da Bíblia são inspiradas e úteis para a vida e a piedade, e outras simplesmente não.

Ainda assim, algumas dessas pessoas sentem a necessidade de se justificar . Essencialmente, elas jogam a carta do relativismo cultural. A ideia é que aqueles códigos constrangedores eram culturalmente relevantes para a época, e Paulo, não querendo incomodar ninguém, simplesmente era tudo para todos e seguia o pensamento ignorante da época. Ele não queria realmente dizer o que estava dizendo, e como essas práticas estão extintas, não precisamos mais falar sobre elas. (É o que as pessoas boas dizem, pelo menos. Outros apenas dizem que Paulo era um misógino.)

Mas Paulo, na verdade, justificou os códigos teologicamente, não culturalmente. Ele, na verdade, usou os códigos para ilustrar o Evangelho. (Estou pensando em Efésios, capítulo cinco, em particular – e sim, você pode entender isso como se eu realmente acreditasse que Paulo escreveu Efésios.)

Mas vamos aceitar o argumento do relativismo cultural pelo seu valor nominal. Podemos fazer a seguinte pergunta àqueles que o apresentam: “Ok, eu entendo o argumento cultural, mas você pode me ajudar a entender o que havia naquela cultura da época que tornava aqueles códigos legítimos?” A resposta que você receberá, garanto, se resumirá ao patriarcado, sabe, aquele impulso irracional que muitos homens sofrem de controlar tudo. Em outras palavras, os códigos reforçaram uma vida que sempre foi errada.

Mas talvez Paulo soubesse de algo que as pessoas contemporâneas esqueceram.

Essa linha de pensamento foi tremendamente útil para mim. Ajudou-me a reconstruir mentalmente a estrutura institucional em que Paulo e seus interlocutores viviam. E isso levou a algumas descobertas inesperadas.

Uma dessas descobertas é esta: nossas tentativas de contextualizar o evangelho à vida moderna distorceram o evangelho. Acreditamos que podemos abstrair o evangelho das práticas e instituições das quais ele surgiu e então inseri-lo em novos padrões de vida sem alterá-lo. Mas há um problema de odres aqui: forma e conteúdo sempre andam juntos. E algumas formas culturais simplesmente não sustentam o Evangelho.

Ao tentar, você cria uma barreira entre fé e prática e, consequentemente, entre salvação e criação. Os cristãos acabam vivendo vidas que cheiram a gnosticismo. A salvação é reduzida a algo interior. E as dimensões sociais da fé cristã acabam necessariamente sendo filtradas.

Mas aqui está outra coisa que descobri: estávamos completamente errados no que diz respeito às famílias da antiguidade. Claro, havia muitos abusos, e há certas características que não precisamos recuperar. Mas essas famílias tinham isso a seu favor: mantinham unidas muitas coisas que permitimos que se desfizessem . Dentro dessas famílias: o amor e a lei, os homens e as mulheres, os jovens e os velhos, a fé e as obras, a criação e a redenção, tudo se mantinha unido e todos funcionavam em conjunto.

O que pretendo fazer nos próximos posts é apresentar a vocês a família que descobri em minha pesquisa. À medida que aprofundei meu conhecimento sobre ela, deixei de ver os códigos domésticos como um entulho constrangedor sem o qual podemos viver, para me tornar uma espécie de pedra de roseta para interpretar a salvação e praticar a vida cristã.

E para começar falarei daquela instituição que muitas pessoas consideram a mais condenável nos códigos domésticos: a escravidão¹ .

Texto original aqui.

[1] Será publicado em breve aqui neste blog.

Michael Ferreira

Michael Ferreira

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